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domingo, 4 de julho de 2010

Marido de Calcinha

Por Mayra Barreto
Fonte: Revista UMA/ed.112
Já dizia a velha canção de carnaval: “De dia é Maria, de noite é João”. Não necessariamente nesta mesma ordem, a canção também não termina da mesma maneira como na vida real dos crossdressers. “Maria sapatão, sapatão, sapatão” não concretiza nem define a identidade, tão pouco a sexualidade dessas pessoas que se vestem com roupas do sexo oposto.
A expressão, criada nos EUA na década de 60 e importada para o Brasil em 1997, tem definição básica e muito simples: vestir-se ao contrário. Por alguma ou muitas razões, homens e mulheres que gostam, amam, desejam ou adoram e têm verdadeira loucura na prática da arte de se vestir como o sexo oposto são denominados crossdressers.
Porém, usar saia, maquiagem, peruca, terno, gravata, cueca ou calcinha não está ligado à opção sexual dos CDs (termo utilizado para abreviar o nome crossdresser). Eles podem ser homo, hétero, bi, transexuais ou o que for.
Transitando entre paralelos
Este título define exatamente o que a classe CD quer mostrar: são pessoas que admiram e usam roupas e acessórios que o sexo oposto utiliza apenas por gosto pessoal, vontade e prazer. Alguns começam a praticar a troca de roupas sem nem mesmo saber, outros tentam esconder de si mesmos ou da sociedade que um dia impôs que as pessoas devem honrar e, literalmente, vestir a camisa correspondente ao órgão sexual de cada um. Por essas e outras, a grande maioria deles não assume o que realmente pode lhe fazer bem e feliz. Talvez por isso estima-se que haja por aí mais crossdressers do que qualquer outra população do segmento transgênero.
A grande maioria vive refém do medo, da vergonha, da culpa, tudo no mais absoluto anonimato. Frequente, diaria, constante ou eventualmente, não importa, a vontade, o gosto e o prazer de usar algum objeto do sexo oposto pode durar um bom tempo. É muito comum pessoas usarem apenas calcinha ou cueca por baixo das vestimentas durante muitos anos, sem que ninguém saiba.
Há homens que galgam por degraus da escada, aos poucos, e começam a depilar as pernas que se escondem dentro das calças sociais, usando meias-calças e passando batom nas horas em que não há ninguém por perto. “É uma busca incansável pelo limite em que cada um pode ou quer chegar”, explica Kelly Silva Neta, 53 anos, presidenta do Brazilian Crossdresser Club (BCC). “Durante o dia, eu me visto como homem para trabalhar, mas, agora, enquanto falo com você, estou de Kelly.”
Filosofia, missão e objetivo
Apenas por gosto, Kelly participa dessa “brincadeira” há 20 anos. “Ela” sente vontade e necessidade de estar vestida como uma mulher. Trabalha como qualquer outra pessoa, cumpre com suas obrigações, tem dois filhos e leva uma vida absolutamente normal. Ela ainda afirma que as roupas que usa não mudam sua identidade, não importa se está vestida de saia ou gravata. “Sou eu mesma e preservo minha identidade, meus costumes e minha índole de qualquer ‘forma’ que eu possa estar.”
É justamente essa a filosofia, a missão e o objetivo do BCC: o trabalho visa a promover a integração social, tem a ideia de abrir o leque dos CDs, ajudar, orientar e apoiar as pessoas que sentem a mesma vontade. “Nós levamos as pessoas que têm essa fantasia aos lugares para comprar perucas, maquiagem e roupas que vão fazê-las se sentir melhor enquanto estiverem com esse figurino”, explica a presidenta. E acrescenta: “O mesmo ocorre quando meninas querem se vestir como homens. Crossdressers são todos os que sentem essa vontade, seja homem ou mulher.”
Clube das Luluzinhas
O clube, que existe há 13 anos, tem mais de 600 associados de 19 Estados de 5 países diferentes e exclui qualquer caráter pejorativo em reuniões ou, até mesmo, pelo site disponível na Internet. “Promovemos uma festa anual todo mês de maio, aniversário do clube. A HEF é um encontro real em que todas as CDs cadastradas, após um trâmite de segurança imposto pelo BCC, se encontram. É um evento oficial e seguro tanto para as associadas quanto para as novas integrantes”, revela Kelly.
A associação é mais uma ferramenta de divulgação e defesa de todo o time de crossdressers que acredita que a mídia, de um modo geral, auxilia nos esclarecimentos e abre espaço para que as dúvidas e os preconceitos sejam eliminados na medida do possível.
Até que a maquiagem nos separe
Um casamento é a divisão de, literalmente, tudo, e os bens do casal começam a ser conjugados desde a noite nupcial, mesmo que essa união tenha sido consagrada em separação total de bens. enquanto houver amor, a divisão acontece e começa na cama. Mesmo que o cobertor e os travesseiros não sejam os mesmos, a comida quase sempre é, o dinheiro e as contas também, e, às vezes, até o carro, a casa, o banheiro e… até aí, tudo normal, certo? Talvez não.
Vamos combinar que o arsenal feminino de sapatos, bolsas, roupas, vestidos, joias, bolsas e maquiagem é irresistível, não é? E, se uma mulher já morre de inveja da sombra nova da outra, imagine quando seu marido resolver ser o concorrente nº 1 do seu guarda-roupas? As promessas de vida eterna juntos e as juras de amor podem cair por terra no mesmo instante.
Muito mais do que por uma questão estética e de puro ego feminino ameaçado, a grande maioria das esposas, ao descobrirem a fantasia dos maridos, rapidamente caem em transtornos psicológicos e confusões entre seu próprio universo sexual. As primeiras perguntas são as mais diversas: “será que não consegui satisfazê-lo sexualmente?”; “ele é gay?”; “o que minha família vai pensar?”; “e os nossos filhos?”; “como vou explicar isso?”. A reação é absolutamente normal. Freud explicaria tudo isso numa boa, mas o fato é que a esmagadora maioria das esposas não aceita ter um marido crossdresser.
Claro que há, sim, aquelas que entendem que isso é apenas uma vontade, uma fantasia ou um gosto e conseguem administrar muito bem a divisão do guarda-roupas, assim como a opção do marido. A partir da descoberta ou confissão, a divisão passa de material para emocional. As incertezas aparecem de forma brusca e repentina e a vaidade, a autoestima e as dúvidas tomam conta do relacionamento.
Não é fácil entender os reais motivos dos desejos de um crossdresser, mas há muitos casos por aí que provam que há, sim, amor e vida conjungal após a revelação. Uma boa conversa e, quem sabe, até a convivência no mundo dos cds é uma maneira de fazer com que o amor prevaleça após essa mudança de comportamento. Há muitos casos de separação no mundo pelos mais diversos motivos: traição; mentiras; dinheiro; filhos; desinteresse pelo parceiro; e até amor em excesso de uma das partes. Talvez uma fantasia possa ser respeitada e resolver o atrito entre o casal.
O prazer de usar salto alto não define nem julga se um homem deixou de cumprir o seu papel de macho na cama. Os sonhos, desejos e as fantasias podem ser compartilhados entre quatro paredes e, mais do que isso, podem virar brincadeiras a dois e servir até para apimentar a relação. Nesse momento, criatividade e jogo de cintura podem ser até mais importantes do que as juras de amor eterno declaradas no dia do casamento. Ela se apaixonou por uma pessoa que não perdeu nenhuma qualidade e nenhum defeito. Ela apenas se veste diferente agora e isso não a faz melhor nem pior. o rótulo imposto por uma sociedade tipicamente machista prova que, por fora, nada se vê.
Em um bate-papo rápido, Kelly revelou alguns detalhes de sua história e seu cotidiano, com informações que ajudam a entender melhor os CDs:
Nome? Kelly Silva Neta. (“Kelly” porque se veste como ela, Silva por ser brasileira e Neta pela idade)
Idade? 20 anos (não 53)
Qual parte do figurino feminino que você mais gosta? Saias. É bem mais fresquinho no verão.
Veste-se de Kelly com qual frequência? Todos os dias.
Tem filhos? Sim. Dois.
Como foi a aceitação deles quando souberam que você era um crossdresser? Normal, aceitaram numa boa.
É casada? Divorciada.
Já sofreu algum tipo de preconceito por ter esse gosto de se vestir como mulher sendo um homem? Sim, claro! No Brasil, todos sofrem preconceitos: os negros; os índios; os políticos; as loiras. então, por
qual motivo os CDs também não sofreriam? É comum, acontece com todo mundo, todos os dias.
Uma frase importante para Kelly? Não estou aqui para concorrer com homem nem com mulher nenhuma e não faço mal a ninguém. Sou um cidadão comum. A única diferença entre eu e um político, por exemplo, é que não escondo dinheiro na calcinha.